06 de Outubro de 2018
Nobel da Paz 2018 vai para ex-escrava sexual, ativista das causas
Médico Denis Mukwege, que atua na República
Democrática do Congo, e a ativista Nadia Murad, ex-escrava sexual do Estado
Islâmico no Iraque, ganharam o prêmio Nobel da Paz de 2018
A ex-escrava sexual do grupo extremista Estado
Islâmico Nadia Murad e o médico ginecologista Denis Mukwege ganharam o Prêmio
Nobel da Paz 2018 por seus esforços para acabar com o uso da violência sexual
como arma de guerra e conflito armado. O anúncio dos vencedores foi feito na
manhã desta sexta-feira (5), em Oslo, na Noruega.
Denis Mukwege, de 63 anos, passou grande parte de
sua vida adulta ajudando as vítimas de violência sexual na República
Democrática do Congo, na África, e lutando por seus direitos. Ele e sua equipe
trataram cerca de 30 mil vítimas desses ataques, desenvolvendo grande
experiência no tratamento de lesões sexuais graves.
Conhecido como "doutor milagre", ele é um
crítico feroz do abuso de mulheres durante guerras e descreveu o estupro como
uma "arma de destruição em massa".
Financiado pela Unicef e outros doadores, Mukwege
montou um hospital com 350 leitos, uma unidade de atendimento móvel e um
sistema para oferecer microcrédito para as vítimas reconstruírem sua vida.
"O princípio básico de Denis Mukwege é que 'a
justiça é da conta de todo mundo'. O Prêmio Nobel 2018 é o símbolo mais
importante e unificador, tanto nacional como internacionalmente, da luta para
acabar com a violência sexual na guerra e nos conflitos armados", diz a
organização no tuíte acima.
Nadia Murad, de 25 anos, se tornou uma ativista dos
direitos humanos da minoria yazidi após sobreviver a três meses de escravidão
sexual imposta por integrantes do EI no Iraque.
Após escapar dos terroristas, em 2014, ela liderou
uma campanha para impedir o tráfico de seres humanos e libertar o grupo
étnico-religioso yazidis, que é composto por cerca de 400 mil pessoas. As
crenças desse grupo misturam componentes de várias religiões antigas do Oriente
Médio. A etnia é considerada "infiel" pelos extremistas do EI.
Estima-se que 3 mil garotas e mulheres yazidis foram
vítimas de estupro e outros abusos por parte dos extremistas no Iraque. A
violência sexual foi sistemática e fazia parte de uma estratégia militar
empregada pelos terroristas contra minorias religiosas.
Em 2016, ela foi nomeada embaixadora da Boa Vontade
da ONU para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano.
Mulheres usadas como armas de guerra
A presidente do comitê norueguês do Nobel, Berit
Reiss-Andersen, afirmou que edição deste ano do Nobel pretende enviar a
mensagem de que "as mulheres, que constituem a metade da população, são usadas
como armas de guerra e precisam de proteção; e que os responsáveis devem ser
responsabilizados e processados por suas ações".
O comitê recebeu neste ano a nomeação de 216
indivíduos e 115 organizações. Somente algumas dezenas deles são conhecidos. O
comitê mantém a lista em segredo há 50 anos.
O prêmio é de 9 milhões de coroas suecas (cerca de 1
milhão de dólares) e será entregue numa cerimônia em Oslo em 10 de dezembro.
Criada pelo industrial sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite, a premiação
foi concedida pela primeira vez em 1901.