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Rústico chic!

Com um espírito e elementos decorativos muito próprios, o estilo rústico ou country é um regresso às origens. Associado às antigas casas de campo e, embora seja esse o seu habitat natural, a verdade é que o estilo rústico pode ser recriado em qualquer tipo de habitação. Esse foi o ponto de partida da arquiteta Regina Gouvêa num terreno de 700m2, num condomínio fechado na cidade de Americana. A reprodução dos conceitos das antigas casas do século XIX no Brasil foi implantada no alinhamento da via pública com entrada lateral através de um átrio que conduz aos ambientes sociais. Totalmente voltada para o interior do terreno, orientada em um eixo apenas, a casa é circundada por espaços ajardinados que possibilitam aos ambientes a impressão agradável de um terreno maior, graças a iluminação e ventilação abundantes. Os recuos laterais amplos favoreceram o conforto ambiental e melhor aproveitamento do terreno. 

"A matéria prima para elaboração do projeto foi a paixão do casal por sua história familiar e suas viagens. Os dois, amantes de trilhas e do contato permanente com a natureza, idealizavam um espaço onde se sentissem à vontade, em meio a materiais orgânicos, rústicos e aconchegantes para viver e compartilhar com os amigos e familiares. Uma experiência muito rica que exigiu muitas histórias e longas conversas sobre momentos de viagens e lembranças dos antepassados. Ele médico e ela empresária, jogadores de tênis, apreciadores de vinhos, gastronomia, companheiros de viagens e colecionadores de antiguidades. Um casal muito querido, sensível e raro no compromisso de evoluir", destacou a arquiteta.  

Árvore genealógica 
Para a linguagem arquitetônica, Regina inspirou-se nas estâncias espanholas, berço dos antepassados da proprietária e no ecletismo da arquitetura brasileira do século XIX e sua influência européia. Os alpendres nos quartos, com grades de ferro forjado abrindo-se para o jardim, são uma releitura das antigas construções desse período bem como a simetria da fachada, realçada pela centralidade da bandeira de ferro de demolição, em formato semicircular e por placa de cerâmica. A peça, criada e executada pelas ceramistas Adriana e Luciana Tiba em baixo relevo, pintura feita em óxido de cromo e queima em alta temperatura lembra as antigas vilas com o sobrenome dos proprietários.
"Os elementos que faziam parte do acervo familiar, guardados como relíquia, incorporados ao projeto, possibilitaram essa identidade. Ao longo da obra a garimpagem continuou e outros elementos da época foram adquiridos", explicou Regina.

O uso de materiais como tijolos de barro, pintura em cal, cimento queimado, vidros coloridos nas bandeiras de portas, tesouras de madeira facilitando o pé direito duplo favoreceu soluções básicas de insolação e ventilação aos ambientes. Houve uma preocupação em utilizar madeiras autorizadas de manejo florestal e a reciclagem no uso de materiais de demolição. Alternativas do passado solucionando questões do presente numa preocupação de preservação dos recursos naturais. Conceitos de uma arquitetura orgânica que utiliza e reutiliza materiais naturais levou para os ambientes internos a natureza do entorno, numa integração entre interior e exterior. O resultado foi a união de transparência, harmonia e aconchego. O jardim invade os espaços como numa tela viva de paisagem, emoldurada por esquadrias e os materiais internos se inspiram nele em sua coloração e textura.
 
A estrutura da casa é de concreto armado, revestido com tijolos de barro em sua maioria. Na área do estar, jantar e churrasqueira, no miolo da casa, os pilares e esquadrias são de madeira e não há laje. A estrutura aparente do telhado - com grandes vãos e tesouras - mostra o movimento provocado por diferentes alturas, realçadas por aberturas de vidro entre elas. Esse efeito de luz realça e traz leveza aos ambientes.

Totalmente integrada 
A distribuição dos ambientes foi feita em dois pavimentos. No primeiro, logo à entrada uma garagem para três carros com uma pequena oficina onde o proprietário executa pequenos restauros em móveis e objetos antigos. A garagem dá acesso à sala de TV e churrasqueira criando um ambiente de lazer que se abre para o átrio, num jardim. A cozinha, ligada a esse ambiente conduz a área de serviço, corredor dos quartos de hóspedes, e adega sob a escada, que leva ao andar superior. Existe no térreo uma rouparia de apoio aos dois quartos de hóspedes que se comunicam através do hall do banheiro. A sala de estar e jantar estão centralizadas e se comunicam com o jardim do spa, corredor das orquídeas e o átrio. Já o lavabo está localizado de forma a atender aos ambientes de lazer e social da casa. 

No andar superior está localizada a suíte do casal, dois banheiros (masculino e feminino) que se abrem para o closet e um espaço destinado à biblioteca, escritório, home theater e lareira. Esse setor da casa permite uma total intimidade e aconchego ao casal. Além da escada de acesso ao andar superior existe um elevador que liga os dois andares entre o quarto de casal e o corredor dos quartos de hóspedes.    

A estrutura de concreto foi revestida com tijolos de barro propositalmente para dar a sensação de paredes grossas como as construções antigamente. A pintura em cal foi usada externamente na mesma tonalidade das paredes de tijolo, criando um efeito de diferentes texturas artesanais. O predomínio são os de tons terrosos e o barbante, pincelados pelo verde esmaecido e o bronze. Os pisos internos (madeira, lajotão, porcelanato e cimento queimado) se intercalam ao longo dos ambientes. Ora misturados, ora sozinhos eles se compõem criando molduras. Na área de cozinha e banheiros os revestimentos utilizados foram cerâmicas, azulejos antigos, pastilhas de vidro e pastilhas de cerâmica. 


Área de lazer 
A área de churrasqueira é integrada ao corpo da casa através da cozinha e se prolonga até a garagem ,onde uma enorme porta pivotante em madeira permite a ligação entre os dois espaços transformando-os num enorme salão, aberto para o átrio. Num outro ambiente mais tranqüilo existe uma área para o spa, num deck de cruzetas de demolição, pérgolas de madeira cobertas com vidro aramado e um redário. Ambos de frente para o quarto de hóspedes, na lateral da casa com visão para o estar.  Esse ambiente recebeu um círculo de tijolo aparente com seixos rolados que cumprem a função de massagear os pés que caminham até a rede em busca de descanso. Os dormentes de demolição inclinados sustentam a rede. O movimento, dos tijolos com tamanho e profundidade diferentes, quebra a continuidade e rigidez do muro e servem de apoio aos vasos de barro, cheios de suculentas.

Arquiteta: Regina Gouvêa
reginagg.arquiteta@gmail.com
Fotos: Ricardo Raggi

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