Preservado ao longo de quase dois séculos na Igreja da Lapa,
na cidade do Porto, em Portugal, o coração de D. Pedro I veio ao Brasil, como
parte das comemorações pelos 200 anos de Independência. Mas, por trás de toda
essa arquitetura, está o esforço de um personagem pouco conhecido dos livros de
história: João Fernandes Tavares, médico brasileiro responsável por tratar o
imperador em sua luta contra a tuberculose e por conservar o seu coração.
De família pobre, Tavares estudou medicina na Europa graças
à ajuda de um tio, que trabalhava como mestre de obras. Sair do Brasil, para
ele, não foi exatamente um plano de vida, mas a única alternativa possível.
Apaixonado por uma moça cuja família não via com bons olhos o relacionamento
com um homem negro, Tavares acabou denunciado pelo pai de sua parceira após
planejar uma fuga. Intimado a assentar praça no Quartel das Tropas de Lima, no
Rio de Janeiro, capital imperial, o rapaz entendia não ter vocação para o
Exército, e acabou decidindo por tentar a vida fora do país.
Estabelecido em Portugal, Tavares formou-se em medicina,
defendendo o doutorado na Faculdade de Medicina de Paris em 1823. De volta ao
Brasil, foi em sua clínica no Rio de Janeiro que o médico ganhou o apelido de
‘Dr. Canudo’ e tornou-se médico de D. Pedro I. Em pleno bicentenário de nossa
Independência, sua trajetória ainda clama por reconhecimento.