Quem já foi ao Playcenter há algum tempo e volta ao local hoje percebe que algo mudou. A sensação é por conta da falta que os trilhos da montanha russa Boomerang fazem no visual do parque de diversão mais tradicional de São Paulo. E a razão que fez com que o brinquedo fosse desmontado é a mesma que levou 50% a mais de visitantes ao parque nos últimos quatro meses: o Playcenter vai fechar no próximo domingo depois de 39 anos de funcionamento.
Por causa disso, pessoas de diferentes idades enchem o parque com o objetivo de guardar uma última recordação antes da desativação completa. Desde que a empresa que controla o Playcenter anunciou o fim das atividades, em março deste ano, o número médio de visitantes passou de 4.500 por dia para aproximadamente 7 mil, um crescimento de aproximadamente 55%, segundo o parque. Este é o caso, por exemplo, do empresário Rogério Oliveira, 44 anos, que tirou um dia de folga e levou sua filha de 5 anos para conhecer o espaço que fez parte da sua “infância”.
“A minha geração cresceu tendo o Playcenter como parque de referência. Acho que a última vez que eu vim aqui devia ter uns 15 ou 20 anos. Como essa é a última semana, hoje vim para poder guardar fotos de recordação. Umas fotos de um parque que eu acompanhei desde a infância. Acho que vai ser legal para ela também, ter essa recordação”, afirma enquanto tira fotos da filha Laura e da esposa Liliane Pfeiffer no carrossel.
Fundado em 27 de julho de 1973, o Playcenter já recebeu cerca de 60 milhões de pessoas em toda a sua história. Neste período, foram aproximadamente 1,5 milhão de visitantes por ano. No entanto, no dia 29, o parque entra em reforma para dar lugar a um empreendimento, “com novo conceito”, e voltado ao público infantil, como informa em nota a direção da empresa.
Ainda que o fim do parque tenha sido divulgado há quatro meses, muitas pessoas que foram ao Playcenter na última semana de funcionamento foram pegas de surpresa quando informadas sobre a notícia. Como é o caso da dona de casa Sonia da Silva Santos, 48 anos, que viajou duas horas de Caçapava até São Paulo. “É mesmo? Nossa, mas por quê? Não tava nem sabendo. Ainda bem que viemos antes porque ele (aponta para o filho Breno Spir, 7 anos) pede para vir desde pequenininho e agente nunca tem oportunidade de trazer”, conta.
Apesar de lamentarem o fim do Playcenter, muitos dos frequentadores concordam que a atração precisa se modernizar. “Eu acho que ele (Playcenter) já está deteriorado, está ultrapassado. Acho que falta manutenção. Pode ser que seja em decorrência do fechamento”, critica o gerente de vendas Mauro Campagnoli, 51 anos, que passou o dia no parque com seus dois filhos, de 6 e 3 anos.
No entanto, não foram apenas pais e filhos que quiseram aproveitar os brinquedos pela última vez. Muitas pessoas, que não iam há bastante tempo, chamaram amigos para relembrar como é sentir o “frio na barriga” no Playcenter. Mas, nem todos tiveram a mesma coragem de quando eram jovens.
“Então (eu vim) porque me falaram que ia fechar e, como fazia muitos anos que eu não vinha, queria ver como estava. Mas, descobri uma coisa: adolescente não tem medo. Depois que você fica mais velho, você fica mais assim. Eu não tive coragem, por exemplo, de ir naquele do elevador (Turbo Drop). Minha amiga vai me matar porque ela está indo sozinha”, conta a tradutora Silva Helena, 43 anos. Ela e a bartender Raquel Basilone, 31 anos, queriam ir ao parque mais uma vez e adquiriram ingressos em um site de compras coletivas.
E agora?
O público do Playcenter, que ainda aproveita os dias finais, diverge sobre como pretende se divertir depois do dia 29 de julho. Alguns respondem, prontamente, que vão recorrer ao Hopi Hari, parque que fica no interior de São Paulo.
“Eu ainda não fui lá (Hopi Hari). É a opção mais semelhante. Como aqui vai ser para criança, eu só voltaria se fosse para trazer alguém”, lamenta Silva Helena.
No entanto, a localização incomoda outros frequentadores assíduos do Playcenter. Para a designer gráfica Aline Anjos, 27 anos, o parque concorrente não é uma opção muito atrativa para quem não tem carro.
“Agora complica um pouco. O único que tem para adulto é o Hopi Hari e complica um pouco, principalmente, para quem não tem carro. Não é muito acessível. Eu prefiro o Playcenter. A estrutura lá é melhor, mas, sei lá, por ser mais perto e por costume, eu prefiro aqui.”
Fonte: http://terra.com.br/