Para um filme de amor dar certo, antes bastava juntar um cara carente e uma garota bonita, às vezes solitária, ou vice-versa, temperar com um pouco de dificuldades e, pronto, funcionava a receita de abraços e beijos na medida para suprir nossa fome de afeto. “O Lado Bom da Vida” mostra que aquela fórmula não foi superada, mas exige um pouco mais de amargor. Agora o príncipe é maníaco-depressivo e a princesa, ninfomaníaca, depois de viverem perdas que justificam a descompensação. Nada muito grave, apenas o bastante para fazê-los parecidos com gente como a gente.
A astúcia da adaptação para o cinema do best-seller de Matthew Quick consiste em banalizar a perturbação, trazer o distúrbio para o cotidiano, afastando-o da experiência de exceção. Afinal, hoje, quando qualquer melancoliazinha já vira depressão, não conseguimos definir os limites onde começa e acaba a tal normalidade. Ou seja, o que Pat (Bradley Cooper) e Tiffany (Jennifer Lawrence) entregam de cara ao público é um espelho, uma afeição imediata garantida pelo sentimento de quem reconhece: “Pô, eu já vivi isso!”.
O diretor David O. Russell, que se destacou no terreno do cinema indie nos anos 1990, aproveita esse tipo de projeção com ângulos sempre muito próximos, íntimos mesmo, dos corpos. A imagem, em formato scope, absorve ainda mais o olhar, que fica imerso em constantes closes, sem ter para onde escapar, refém da desorientação de Pat e Tiffany. A instabilidade da câmera na mão, mais que repetir o estereotipado efeito de realismo, serve para enfatizar o distúrbio.
Tais supostas liberdades de estilo, no entanto, não trazem nada de novo nem oferecem respiro para o convencionalismo, que se impõe com o banal romantismo. A vantagem é que o filme de fato vibra graças aos atores.
Fonte: http://portal.tododia.uol.com.br