Na sua extensa galeria de tipos, Miguel Falabella já foi o rico falido que tinha horror a pobre, em “Sai de Baixo” (1996-2002). Recentemente, representou parcela da população que se equilibra entre dívidas e a aparência, em “Toma Lá, Dá Cá” (2007-09). Agora, em “Pé na Cova”, seu novo trabalho como ator e escritor para a Globo -que estreia no dia 24 de janeiro-, joga no mesmo balaio a morte e a histeria da ascensão da classe C brasileira. E avisa que esta pode ser sua despedida como intérprete na televisão.
“Na TV, eu virei macaco. Já deu, já fiz muita coisa. Vou ficar muito tempo no ar no Viva [canal de reprises da Globo]. Quero parar de atuar depois desse seriado. Escrever mais. Gravar toma muito tempo”, afirma. Ambientada no Irajá, no subúrbio do Rio, a série gira em torno de uma funerária. Segundo Falabella, 56, o tema morte passou a ficar mais presente em sua vida depois de completar 50 anos. “É um questionamento natural do homem. Após os 50 anos, a finitude é uma coisa presente na vida de qualquer um.”
O autor refuta qualquer menção a plágio de “Six Feet Under” (2001-05), produção americana cujos protagonistas também eram donos de uma funerária. “Vi alguns episódios, mas não tem nada a ver. Não me inspirei. É outro mundo, a dramaturgia televisiva deles é muito previsível. É brilhante, mas previsível”, dispara. “Interessa mostrar outra estética. Há beleza e humanidade na decadência.”
FAMÍLIA ADDAMS
No programa, Falabella interpreta Gedivan Pereira, o Ruço, chefe de uma família disfuncional. “Eles são a família Addams do Irajá. O último degrau. Não gostam de ler, não vão ao teatro e, se fossem, ficariam mexendo no celular durante o espetáculo”, diz. “A comédia é sempre a melhor maneira de dizer as coisas, melhor do que a carta anônima. É claro que houve um crescimento econômico, mas o não investimento na educação nos faz crescer de maneira atabalhoada.” Casado com uma jovem 30 anos mais nova -Abigail (Lorena Comparato)-, Ruço ainda divide o teto com a ex-mulher, Darlene (Marília Pêra), maquiadora de defuntos.
O ex-casal tem dois filhos, Alessanderson (Daniel Torres), um rapaz iletrado com pretensões políticas, e Odete Roitman, uma homenagem à vilã de Beatriz Segall na novela “Vale Tudo” (1989). A jovem é bissexual – namora a borracheira do bairro, Tamanco (papel da sambista Mart’nália)- e é quem sustenta realmente a família fazendo striptease na web.
No elenco ainda estão uma vizinha mexeriqueira, Luz Divina (Eliana Rocha), a empregada dos Pereira, Adenoide (Sabrina Korgut), e Marcão (Maurício Xavier), irmão de Tamanco que de noite se traveste de Markaça Mensalão. Os atores Claudia Jimenez e Ney Latorraca também faziam parte da escalação de “Pé na Cova”, mas, por motivos de saúde, tiveram de deixar o projeto.
Claudia seria a nova mulher de Ruço e Latorraca, o motorista do rabecão. O ator Alexandre Zacchia ficou com o papel do último. “Em ‘Pé na Cova’ temos pessoas loucas fazendo coisas anormais num cenário bem normal, que é o da morte”, afirma a diretora Cininha de Paula.
Fonte: portal.tododia.uol.com.br